quarta-feira, 11 de maio de 2011

Entrevista de emprego

Acordou-se mais cedo que de costume e vestiu sua melhor roupa - nada muito exagerado, precisava causar boa impressão, não espantar ou ferir a  vista de seu entrevistador com alguma coisa muito berrante. Teve receio de usar perfume,  talvez pudesse não agradar. Na dúvida, não usou nada: saiu de casa com o cheiro do próprio corpo depois de lavado, assim sentia-se mais seguro. Estava confiante de que o emprego seria seu.
Ao chegar à entrevista, deparou-se com uma fila infindável de concorrentes. Assustou-se. Não esperava encontrar tantos candidatos interessados numa vaga tão sem importância, e a agência de empregamento não o advertira do que teria a enfrentar. Tudo o que recebera fora uma carta em sua caixa de correspondências comunicando a proposta de emprego. "Levar prancheta", dizia uma nota de rodapé. Não tinha prancheta, teve que comprar uma.
Na sala de espera abarrotada, uma secretária peituda passou distribuindo uma folha a cada um dos presentes: o formulário a ser preenchido. Suou frio. Quase nunca se dava bem com formulários, não conseguia ser sincero e acabava preenchendo tudo com mentiras: escolaridade - ensino superior; curso - doutorado em letras. Quando a secretária aproximou-se, não olhou o papel, olhou seus peitos. Eram descomunais. Nunca tinha visto peitos tão grandes em toda a sua vida - evidente que eram artificiais. Naturais ou não, quem estava ligando para aquilo? Imaginou mil safadezas.
Diante daquele formulário, decidiu que seria honesto; preencheria tudo conforme a verdade, mesmo que ela não lhe fosse favorável. Quando devolveu o papel, sentia-se aliviado. A certeza de que arranjaria o emprego tornou-se cada vez mais viva.
Alguns instantes depois, começam a ser chamados os primeiros candidatos qualificados ( Francisco, Antônio, João), mas sua vez parecia nunca chegar. Estava prestes a levantar e gritar erguendo as mão para o alto: "Eu! Eu! Eu estou aqui! Por favor, me escolham!" A sala ia-se esvaziando e nada de seu nome ser convocado.Desesperou-se. Não havia conseguido.
Impaciente já, levantou-se e foi beber um pouco de água, o que não diminuiu sua tensão; mais um pouco e teria um colapso nervoso. Cansado de esperar, saiu às pressas do recinto abafado e ganhou a rua.
Instantes depois uma voz masculina ecoa da outra sala:
- Antônio Guilherme Araripe!
Mas ninguém responde.

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