Rendido, ele suspira profundamente e enterra as mãos no bolso da pesada jaqueta jeans. É estranho, pois mesmo sendo um homem de quarenta anos, sua atitude o faz parecer um garotinho que é pego em flagrante no ato de um traquinagem. Nenhuma palavra lhe sai da boca a não ser aquele suspiro.
Camila não esperava que fosse diferente, afinal os homens são sempre os mesmos - podem mudar as táticas para se conseguir uma boa trepada, mas basta encurralá-los para descobrir o quanto são parecidos (mais que isso, até: semelhantes). Quando finalmente são descobertos, tornam-se mudos, enfiam as mãos nos bolsos e botam na cara a melhor expressão "lamento-muito-mas-não-foi-minha-culpa".
Renato não era uma exceção. Na verdade, as exceções eram cada vez mais raras. Não existiam mais exceções como Cristo, Gandhi ou Dalai Lama - homens honestos, que certamente não seriam capazes de ferir o coração de um a mulher, fossem quais fossem as circusntâncias. Não era pedir muito querer um cara assim para o resto da vida.
Desejava ter ouvido sua mãe. Mas estava hipnotizada pelos olhos verdes de Renato, fora laçada por um poderoso feitiço no exato instante em que o encontrara pela primeira vez, numa cafeteria da Estação da Luz. Ela se lembrava desse episódio como se fosse hoje A cafeteria estava lotada, mas ainda assim pudera disdinguí-lo das demais pessoas quando ele entrou e sentou-se numa mesa próximo ao balcão do caixa; carregava um jornal debaixo do braço. Uma garçonete loura e peituda aproximou-se quase no mesmo instante. Teve ciúmes da maneira como ela o recepcionara (estava dando em cima dele!) Mas o que lhe importava aquilo? Na época, Renato não era mais que um estranho e já lhe causava grandes transtornos.
Tornara-se obsessiva: conquistar Renato era sua meta. No dia em que o encontrara na estação, não se falaram de imediato. Renato, na verdade, manteve o tempo todo a cara metida em seu jornal, não dando a mínima para ela.
Nos dias que se seguiram, Camila frequentou a mesma cafeteria assíduamente, embora não fosse fã do café que ali preparavam (suspeitava até que usassem xixi como substituto para a água do café). De todos os modos tentara chamar a atenção de Renato: dirigindo-se a todo instante ao toalete feminino; bombardeando-o- com olhares sugestivos toda vez que ele baixava o jornal. Porém tudo fora inútil. Quando finalmente decidiu ir até a mesa onde Renato tomava seu café com broas, ele olhou-a e sorriu.
- Tenho observado você esse tempo todo, disse ele. e você é uma pessoa bem estranha.
Daí por diante tudo correra às mil maravilhas. Camila viveu sonho de amor, esbaldando-se no prazer que Renato lhe proporcionava.
Parecia que finalmente havia encontrado o homem dos seus sonhos quando descobrira um número de celular rabiscado na agenda telefônica de Renato, acompanhado de um bilhete:
"Me ligue quando quiser - Amanda"
Agora ela o indagava, inquisidora: queria saber quem era aquela tal mulher, a da letra redonda. Renato mantinha-se calado, o que quer que dissesse apenas servindo para incriminá-lo mais ainda. Queria ter coragem de confessar, afinal Camila merecia conhecer toda a verdade. Não havia apenas Amanda em sua vida; existiam outras, muitas outras. Porém manteve-se calado.
Homens... Todos sempre tão iguais!