terça-feira, 8 de março de 2011

Olhos na distância

Há uma semana ele tinha partido e desde então não mais voltara. Com os olhos na distância, Maristela o aguardava, esperançosa. A todo custo procurava espantar para longe a ideia de que ele nunca mais voltaria, de que as ondas furiosas do mar haviam tragado para sempre o barquinho de pesca  com o qual partira. Bem que insistira para que não fosse, pois os ventos que ultimamente sopravam não pareciam muito confiáveis. Mas o marido, turrão, não lhe quisera dar ouvidos. Voltaria com um bom pescado, garantia, e daquela vez ganharia muito dinheiro, o bastante para enfim saírem daquele miserê em que se encontravam. Compraria boas roupas para ela e para as crianças, talvez até sobrasse um pouco de dinheiro para a reforma do velho barracão. Poderiam viver como pessoas decentes.
- De que vale um vida decente, se em troca disso me for tirado um marido?, ela argumentera no dia de sua partida
- Êh, mas que falta de otimismo! Vai dar tudo certo, mulher.
Não, nada iria dar certo. Ela tinha certeza de que não.
E agora uma semana se passara desde que o marido cabeça dura armara a vela de sua pequena jangada e partira singrando as  vagas revoltosas. Em seu coração,Maristela sabia o que havia acontecido, porém recusava-se acreditar.   

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