segunda-feira, 7 de março de 2011

O esquisito

Ao contrário dos outros meninos, Ricardinho nunca se interessava pelas coisas; ficava sempre amuado a um canto, enquanto a molecada se divertia com as mais diversas brincadeiras. Nunca sorria, pois se não tinha com o que brincar, não tinha também motivos para sorrir. O único som que se ouvira  dele até então fora o seu berreiro ao nascer.
O pai olhava o menino e quase sempre chegava à mesma conclusão: aquilo eram vermes; o menino precisava de um bom purgante. Porém nem purgante  ou qualquer outro remédio contra males de tripas davam jeito na tristeza do moleque.
A mãe, ao contrário, achava que fosse coisa da idade.
- Besteira!, o pai retrucava imediatamente. Vê se o Paulinho é assim, ou então o Gustavinho. Todos agem como crianças normais - crianças normais, Maria Helena. Nosso filho é um retardado.
Durante anos a fio Maria Helena recusou-se acreditar naquela possibilidade. Porém aquilo agora tornava-se  evidente, não só porque o marido  insistia em pensar que o filho sofresse de algum mal da cabeça, mas porque as evidências tornavam-se cada vez mais claras.
Santo Deus! E se aquilo fosse verdade? E se o marido tivesse razão? Quase sempre ele estava enganado,  mas daquela vez... Tudo apontava para um única verdade da qual ela sempre tentara se esgueirar. Mas uma hora não haveriam mais caminhos por onde escapulir, então ela teria que aceitar o fato de que, mesmo com todas as suas esquisitices, Ricardinho nunca deixaria de ser o seu menino.

Nenhum comentário:

Postar um comentário