terça-feira, 8 de março de 2011

O terrível

Na nossa rua todo mundo estava preocupado. Desde que um vira-lata se instalara nas imediações, ninguém mais tinha sossego. O animal rosnava para qeum quer que passasse, fosse homem adulto, criança ou mesmo uma velhinha que voltava das compras de feira (não tivesse ela cuidado, era atacada traiçoieiramente pelos calcanhares). Os mais precavidos andavam sempre armados com algum porrete ou um punhado de pedras, o que só servia para atiçar a fúria do animal. Por essa e por outras,  fora apelidado de "O Terrível" - não que de fato fosse algo de impressionável: o animal era franzino e já alguns dentes na boca lhe faltavam; sua fama devia-se tão-somente a sua bravura.
A não ser por isso, ninguém dava muito crédito para O Terrível; alguns até o consideravam meio burro, pois sua cara conservava uma permanente expressão apalermada. Eu sempre achei que tudo o que O Terrível queria era só um lugar onde pudesse ficar sossegado, livre dos perigos que uma cidade grande representava; talvez por esse motivo viera buscar abrigo em nossa rua. Mas nem os animais encontram repouso na vida terrena, de modo que os moleques, vez por outra, estavam lhe atirando pedras e dando-lhe pauladas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário