segunda-feira, 7 de março de 2011

Boi, boi,boi...

Nos meus tempos de menino, muitas coisas me metiam medo. O escuro, por exemplo. Só de pensar nele, já ficava todo arrepiado.
Quanto a isso, nada de anormal. Toda criança tem medo de escuro, assim como  de minhocas, aranhas e baratas (até os adultos têm medo dessas coisas!). O que definitivamente fugia do normal era o pavor que eu tinha de bois. Toda vez que encontrava algum solto na rua,  corria para me esconder debaixo da cama, ficando lá o resto do dia ou até que alguém me encontrasse.
À noite, sonhava com bois. Sonhava que estava cercado por centenas deles: grandalhões, pardos, desajeitados. Me encaravam com uma expressão estúpida na cara, despreocupados com a vida. Nada faziam, além de mastigarem capim, mas eu sempre acordadava aos berros. Mamãe acudia às pressas, tentando me tranquilizar, mas só agravava a situação. Em seu colo, ouvia sua voz doce cantarolando a canção de ninar que mais me enchia de pavor:

Boi, boi, boi
Boi da cara preta... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário