Quanto a isso, nada de anormal. Toda criança tem medo de escuro, assim como de minhocas, aranhas e baratas (até os adultos têm medo dessas coisas!). O que definitivamente fugia do normal era o pavor que eu tinha de bois. Toda vez que encontrava algum solto na rua, corria para me esconder debaixo da cama, ficando lá o resto do dia ou até que alguém me encontrasse.
À noite, sonhava com bois. Sonhava que estava cercado por centenas deles: grandalhões, pardos, desajeitados. Me encaravam com uma expressão estúpida na cara, despreocupados com a vida. Nada faziam, além de mastigarem capim, mas eu sempre acordadava aos berros. Mamãe acudia às pressas, tentando me tranquilizar, mas só agravava a situação. Em seu colo, ouvia sua voz doce cantarolando a canção de ninar que mais me enchia de pavor:
Boi, boi, boi
Boi da cara preta...
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