domingo, 13 de março de 2011

Dorme, criança

Chovia a cântaros. Lá fora, raios e trovões cortavam o céu, provocando ruídos aterradores. A cada ribombar glorioso ela se encolhia debaixo do lençol, como se a frágil película de algodão fosse capaz de protegê-la de alguma calamidade. Consciente de seus temores, abraçava-lhe para que se sentisse em segurança. Quando a tempestade passava e eu percebia que ela havia pegado no sono, surpreendia-me com sua voz incerta: "Fique mais um pouco, papai!" E eu ficava... até que o dia amanhecesse, até que a luz do sol houvesse dissipado seus medos por completo. Em silêncio, apreciava seu sono inquieto (seu corpo estremecia em espasmos regularmente), esperando que a noite seguinte fosse de temporal. Mas nunca era e levava tempos para voltar a ser.
Não me pedia para que contasse histórias, apenas que permanecesse do seu lado; eu era seu anjo protetor. Doía-me pensar que um dia cresceria, arranjaria um esposo, teria filhos que sentiriam sede do seu amor tanto quanto ela agora sentia do meu. Então abraçava-lhe ainda mais, como para agarrar aquele momento-instante e não deixá-lo fugir. Se me perguntava por que a estava apertando tão forte, respondia à beira de lágrimas: "Dorme, criança!"

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