segunda-feira, 16 de maio de 2011

Hóspede indesejado

Quando mamãe disse que receberíamos uma visita, eu não esperava que fosse a de um folgadão como o meu tio. Mais respeito, menino! Sim, mamãe, é o que ele é. O homem entrou em nossa casa sem cumprimentar ninguém, esparramou-se no sofá, tomou de mim o controle da televisão, mudou meu canal favorito para um programa nojento de piadas indecentes, tirou os sapatos, jogou os pés sobre a mesinha de centro e meteu a mão na minha pipoca; depois, para desfechar o cúmulo do absurdo, me mandou lhe pegar uma cerveja: "Depressa, fedelho, que eu estou morrendo de sede." Tente compreendê-lo, querido; seu tio é um homem do campo, ignora como as coisas na cidade funcionam.
Para mim, ele sabia das coisas muito bem - tão bem, que já estava se achando o rei do pedaço. O tempo todo me dava petelecos a troco de nada, e se eu ia reclamar, mamãe sempre ficava do lado do irmão: que, se ele me dava uns cascudos de vez em quando, é porque eu tinha feito por onde. Não aguento mais ele, mamãe: o homem fede, ronca, vive com a mão metida nas calças e, como se não bastasse, ainda solta puns tão fedidos que por onde ele passa as plantas murcham e os passarinhos adoecem. tenha paciência, querido. Ele não vai ficar aqui, morando com a gente, pelo resto da vida; já me garantiu que, quando arranjar um emprego, vai logo embora. E a senhora ainda acredita nisso? Quando esse homem arranjar um emprego, mamãe, eu já vou estar careca e gagá - morando bem longe daqui, graças a Deus.

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