terça-feira, 26 de abril de 2011

De olhos fechados

Uma vez me perguntei até onde a força humana era capaz de lançar uma pedra. Apanhei uma pedra de riacho e fiz eu mesmo um teste: concentrando todas as minhas forças, lancei-a o mais longe que pude. Bom, ela não foi tão longe assim; ricocheteou algumas vezes na superfície espelhada da água e depois afundou poucos metros adiante de mim. Confesso que fiquei decepcionado, mas não desisiti de alcançar meu intento; apanhei outra pedra e lancei-a o mais longe que pude. E, mais uma vez, não tive sucesso.
Voltei para casa frustrado e envergonhado de minha limitada capacidade como homem. Não jantei. Fui direto para o quarto, tranquei-me e adormeci. Não tive sonhos.
Na manhã do dia seguinte, acordei e tomei o meu café como se o dia anterior não tivesse havido. Queria trabsformá-lo num borrão, apagá-lo de minha história.
Foi quando me bateram à porta. Estava mastigando um pedaço de pão e olhei o relógio: era cedo para ser incomodado, mas ainda assim fui atender ao chamado. Nada encontrei além de uma bola de papel amassado jogada no chão. "Moleques!", gritei para o nada.
Em seguida, tomei o embrulho nas mãos. Ele pesava mais que o normal. Abri-o, então, e lá dentro estava uma pedra. Li o bilhete rabiscado no papel:

"Feche os olhos
e acredite."

De imediato, não entendi as palavras ocultas naquela mensagem enigmática. Porém desconfiava que tivesse algo a ver com o que acontecera no dia anterior. A pedra envolvida no papel tinha uma assombrosa semelhança com a que eu havia atirado no riacho.
Só nas últimas horas do dia foi que voltei ao richo, mas não sem antes relutar um bocado. Não queria novamente provar de meu fracasso.
A princípio, fiquei apenas sentado à margem do riacho, comprimindo a pedra que aos poucos ia aquecendo-se na palma de mina mão.
"Feche os olhos e acredite". Não parava de pensar naquele bilhete esquisito. O pôr do sol descortinava-se à minha vista, enquanto minha cabeça divagava. Experimentei fechar os olhos, como recomendava o bilhete. Mas em que deveria acreditar? Deixei que o som do vaivém da correnteza embalasse meus pensamentos.
E foi então que entendi, entendi tudo. Uma chama de auto-confiança novamente ardia em meu espírito. Levantei-me e apertei com maior segurança a pedra em minha mão. De olhos fechados, lancei-a para longe. Daquela vez, havia conseguido. 
  

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