quarta-feira, 27 de abril de 2011

O sufoco de uma adolescente para não perder a hora

Para minha irmã, que hoje acordou e descobriu que tinha perdido a hora de ir para o colégio.


Mais uma vez ela se atrasara para a escola. O pai havia lhe prometido um novo despertador, pois o que possuía constantemente lhe deixava na mão: ora despertava demasiado cedo, ora tarde demais; daquela vez o alarme sequer havia soado. Despertara-se uma fera, determinda a não perder mais aquele dia de aula. Xingou alto, atirou coisas no chão, como se tais gestos abruptos bastassem para reverter a situação em que se encontrava. Porém nada parecia funcionar, tudo contribuindo para deixá-la ainda mais nervosa. A mãe dizia que a menina tomava café demais; aquilo lhe estava atacando os nervos, que por si só já eram fragilizados. A menina, por sua vez, defendia-se: o que, afinal de contas, a mãe estava querendo dar a entender com aquilo? Não era esquizofrênica! Porém a verdade revelava-se totalmente outra. Quanto mais transcorriam as horas, mais incontida ela se tornava. Quebrava coisas. Falava alto. Batia os calcanhares contra o chão. A mãe lhe dava um puxão de orelha. A menina se continha por alguns instantes, mas logo descontrolava-se.
Naquele dia ela precisava, de qualquer maneira, ir à escola; que chovesse adagas, que a cidade fosse invadida por um furacão - precisava estar na escola no horário previsto. Não que algo especial, como um provão ou alguma atividade de maior relevância, fosse acontecer. Havia perdido muitas aulas. Não era uma aluna desinteressada, como a maioria de suas colegas, e aquela falta estava lhe deixando aflita. Há dias o pai vinha lhe prometendo um novo despertador, porém nunca cumpria sua promessa. Isso a exasperava. Quando ia cobrá-lo, mais ainda ele protelava sua dívida.
Mesmo atrasada, a menina arrumou-se como num dia qualquer. Vestiu seu uniforme escolar. Penteou os cabelos. Usou mequilagem. Olhou-se uma última vez no espelho e saiu apressada.

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