domingo, 13 de março de 2011

Medo de escuro

O escuro era uma das coisas que ela mais temia. Porém, se perguntássemos por que tinha medo, ela responderia: "Não sei!" Às vezes sentia raiva de ser medrosa. Queria criar coragem assim mesmo como se cria cabelo. Tentou por inúmeras vezes enfrentar seu medo com determinação, mas não durava um minuto de luz apagada e logo começava a gritar.
Como se tudo ainda não bastasse, tinha seu irmão para fazer sarro. O guri ficava o tempo todo ao pé de seu ouvido, repetindo uma ladainha irritante: "Medrosa! Medrosa! Clarice é uma medrosa!" O que ela mais queria nessas horas era ter alguma coisa para quebrar na cabeça do irmão. Qualquer coisa lhe serviria como arma: um travesseiro, um ursinho de pelúcia ou um chinelo velho que encontrasse pelo caminho. Mas o irmão parecia ter uma espécie de trato com o Coisa Ruim, pois ela nunca encontrava nada que pudesse lhe servir de arma.
Mesmo depois de moça já feita, Clarice nunca superou seu medo. Ainda hoje dorme de porta aberta e não permite que ninguém apague seu abajur de cabeceira.

Um comentário:

  1. Ai, adorei o texto!Não tenho medo de escuro não! Mas este irmão aí me lembrou demais o meu!!!!!! Teu espaço é tão aconchegante, Marlon, deixa eu te ler mais! Beijos, Aninha

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