Morreu pouco depois de ter nascido. Como se ainda não bastasse tamanha desventura, ainda cedo perdera a mãe, que partira num dia qualquer, cansada da vida monótona e tranquila que levava. Mas nem por isso viveu sem felicidade. Embora o amor maternal houvesse lhe sido roubado, encontrou em uma pequena família o amor adotivo necessário para sorrir, fazer estripulias, brincar com a molecada da vizinhança. Era um menino barulhento, e quando calou-se por um dia inteiro soube-se que havia algo errado. Levaram-no ao médico para descobrirem o que já temiam: uma doença mortal que carregava desde o berço em estado latente havia se manifestado, de modo que que nada poderia ser feito, não havia no mundo remédio ou paliativo que pudesse curar ou mitigar seus males. O prognóstico, porém, estava equivocado; havia sim algo que poderia ser feito: o amor da família e dos amigos poderia aliviar o sofrimento do menino.
Em sua última semana de vida foram-lhe concedidas todas as regalias que até então haviam lhe sido negadas. Pôde brincar com terra sem medo de uma reprimenda. Pôde comer quantas goiabas e azeitonas e doces em compota lhe foram possíveis, até que se sentisse tão empanturrado que não conseguiu mais levantar-se, ficando ao pé de uma mangueira o resto do dia. A árvore, carregada de frutos amarelinhos, era uma tentação a que ele não teria resistido, já não estivesse satisfeito.
Às nove da noite foi-se deitar, como era costume e obrigação imposta pelos pais. Foi-se deitar para sempre. Nunca mais acordou.
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