segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Um abraço

Ele estava urgentemente precisando de um abraço, mas não sabia a quem recorrer. Julgava-se sozinho no mundo, como em uma ilha deserta. Experimentou várias categorias de abraço. Abraçou árvores, postes, animais, pedras e até mesmo o próprio nada. O vazio que sentiu foi ainda mias angustiante. Trancafiando-se no quarto, chorou dias e dias até que quando saiu não era mais o mesmo. Não queria mais saber de abraços, coisa que tanto o fizera sofrer. Agora viveria independente das coisas que faziam das pessoas frágeis mascotes dependentes. Frequentemente presenciava alguém aos abraços, mas aquilo pouca ou nenhuma emoção lhe causava. Era uma pedra, um pedaço de madeira, como todos os objetos ao qual se entregara e não fora correspondido.
Mas um dia, ao acordar, sentira algo diferente. Recusava-se pensar que algo de novo havia se dado, pois habituara-se a uma vida estática, onde tudo era previsível. Embora nada o surpreendesse, aquilo o estava deixando intrigado.
Saiu de casa para fazer compras e a sensação estranha tornou-se ainda mais intensa quando, por acidente, enquanto escolhia algumas frutas da gôndola do supermercado, sua mão tocara o braço de uma bela mulher a seu lado. Os dois trocaram olhares, constrangidos. Então ele entendeu tudo: estava apaixonado.
Foi para casa pensando na moça. Qual era seu nome? Onde morava? Devia ser nova na região, pois nunca a tinha visto ali antes. Ruminou-se com questões infindáveis o resto do dia.
Na manhã seguinte, voltou ao mercado mesmo sem necessidade. Não encontrou a estranha, o mesmo se dando no dia seguinte,e no outro, e no outro. Decepcionaddo, não quis mais saber da senhora Fulana de Tal e passou a fazer compras em outro lugar.
Foi quando , ao final de uma tarde qualquer, ele encontrou debaixo de sua porta um envelope comum, provavelmente contendo uma carta manuscrita. Desconhecia o remetente, porém desconfiava quem fosse. Sentou-se na poltrona maior da sala e abriu o envelope. Não havia se enganado.
A carta era breve, parecia querer economizar as palavras:

"Não sei o que você tem de especial, mas tê-lo visto pela primeira vez desencadeou uma revolução na minha vida. Eu estava cançada de tudo: da vida, do meu emprego, dos homens... Mas quando lhe encontrei senti uma coisa estranha revirar dentro de mim. É com espanto que admito: estou apaixonada por você!"

Atenciosamente, 
Amélia Grimbal

Pensara em responder imediattamente, mas hesitara. Como aquela estranha havia descoberto seu endereço? Podia ser uma golpista. Não tinha muito, admitia, mas o pouco que possuía era o bastante para despertar a cobiça de interesseiros.
Muinutos mais tarde, ao sair para jogar o lixo, percebeu uma movimentação na casa vizinha, que ficara anos abandonada. Um tanto incrédulo, ele constatou que sua  nova vizinha era Amélia Grimbal.
Ficou um longo tempo parado no meio da calçada, como uma estátua pública; mais um pouco e teria pombos defecando em seus ombros. Enfim decidiu-se que iria falar com a mulher, a pretexto de dar-lhe boas vindas. Suspirou fundo e arriscou um passo, depois outro, mais outro. Seucoração batia alucinadamente quanto mais se aproximava. Antes que alcançasse a varanda da casa vizinha, a porta abriu-se para ele, revelando a mais bela de todas as criaturas: um anjo de cabelos ruivos e pele clara, olhos verdes e intensos. Todas as palavras que até então vinha ensaiando na cabeça escoaram-se ralo abaixo. Tinha que fazer alguma coisa depressa.
Poprem não foi preciso. Com os olhos marejados a mulher atirou-se sobre ele e o abraçou intensamente, quase desesperadamente, a ponto de sufocá-lo. Enfim alguém o abraçava. Enfim experimenteva um abraço verdadeiro.



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