sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Histórias de avó.

Para Edite Procopio Martins, minha vovó. 

Vovó lá em casa era uma alegria. Toda vez que chegava, carregando enormes sacolões, sabia que trazia alguma coisa especial para nós. Quase sempre estava certo. Eram carrinhos, bonecas e cavalinhos de plástico ou de madeira que faziam a nossa felicidade. Para as meninas, roupinhas de boneca confeccionadas por ela mesma. Não tínhamos que disputar para saber quem ficava com o melhor brinquedo. Vovó sabia exatamento de que seus netinhos mais gostavam.
Sentávamos todos ao redor dela para ouvir as histórias que sempre tinha para contar. Sua vida de menina era tão fascinante que mais parecia coisa de filme. Também um dia gostara de ganhar brinquedos, e sua avó, assim como ela, tinha costume de presentear ( portanto aquela prática era uma tradição que há muito ela vinha preservando, para a nossa alegria); porém os brinquedos que ganhava quase sempre eram brinquedos usados, doados por alguma alma caridosa. A vida naquela época não era nada fácil. Brinquedo novo era um luxo com o qual não podiam contar.
Quando criamça, vovó teve de trabalhar na lavoura com o pai, acordando diariamente antes do alvorecer (hábito que ainda hoje conserva, mesmo sem necessidade), o que não lhe roubava o direito de ser criança. Sua brincadeira favorita era correr. Corria a fazenda de cabo a rabo, pés descalços, cabelos soltos ao vento. O pai não ralhava. Era bom que a filha nunca perdesse o ânimo. Iria precisar dele mais tarde, quando tivesse a prórpia família.
Uma das coisas que mais lhe metia medo era o Curupira. Ouvira dizer que ele era uma criatura horrenda, de pés virados para trás, cabelos vermelhos como fogo; tinha mania de se entocar na mata e pregar peças em caçadores cruéis que caçavam sem necessidade. Morria de pavor só em pensar que pudesse se deparar com ele numa de suas andanças pelo matagal.
Depois de nos contar suas histórias, vovó preparava bolos quentinhos, quentinhos, e nos servia com uma caneca de chocolate fumegante. A hora de sua partida era uma tristeza. Agarrávamo-nos às barras de seu longo vestido azul para que não se fosse, mas de nada adiantava: vovó sempre acabava indo embora.

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