terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Presente de aniversário

Eunício estava impaciente. Andava de um lado para o outro, passinhos apressados, imitando gente grande. Em meia hora o bolo seria cortadado e Tino ainda não havia chegado. Quase implorou para que não se atrasasse, mas de nada adiantou.
Não era todos os dias que se fazia aniversário de oito anos. Eunício era quase um rapazinho - mais um pouco e alcançaria o irmão, de doze anos. Um mundo irresistível de possibilidades o aguardava. Não permitiria que seu melhor amigo não se fizesse presente num momento tão importante como aquele.
Faltavam quinze minutos quando começaram a chamá-lo: as velas seriam acesas. Não deu importância. Se Tino não estivesse ali não haveria festa alguma.
Os minutos transcorreram como décadas se arrastando. Nenhum sinal de Tino. Eunício já estava prestes a desisttir da festa quando sua mãe sentou-se do seu lado e tentou consolá-lo. Esperasse mais um pouco, o amigo chegaria logo. Talvez o carro dos pais estivesse preso num congestionamento: o trânsito estava horrível àquela hora. Eunício esboçou um sorriso e tentou se tranquilizar com as palavras da mãe. Mas no fundo, no fundo, ainda estava preocupado, e olhava anciosamentte o movimento da festa, esperando encontrar a cabecinha ruiva tão familiar transpondo a multidão de cabeleiras morenas.
Eram quase oito da noite quando enfim chegou. Um ar de alívio fez-se notar nas expressões de todos os presentes: finalmente o bolo seria repartido. Eunício de imediato foi abraçar o amigo, porém não recebeu o mesmo acolhimentto. Tino sequer abrira os braços para abraçá-lo. O menino olhou-o, então, e viu que seu semblante estava triste. Perguntou o que houvera. Foi à custo que Tino respondeu. Não havia encontrado um bom presente para um menino de oito anos, embora houvesse procurado em todas as lojas da cidade; sentiria vergonha se lhe desse outra vez um caminhãozinho de areia. Eunício abraçou-o antes mesmo que ele pudesse pedir desculpas, agindo pela primeira vez como um menino grande. Em seguida deu uma chocoalhada no amigo, em sinal de que estava tudo bem. Seu melhor a migo estava ali. Era o que bastava.

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