segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Domingos de pelada

Domingo, dia de sol e também de pelada. Mais uma vez os meninos se juntam no campinho para uma nova partida. Quem está de fora não entende de onde eles tiram tanta energia para correr atrás da bola de borracha cravejada de remendos. Há os vizinhos que reclamam da bagunça, mas nenhum é tão temido quanto seu Agenor. Homem careca e de cara azeda, já deixou bem claro que detesta os dias ensolarados  cheios de alegria e de crianças nas ruas. Por ele, todos os dias seriam dias de temporal e mesmo no interior do Ceará cairia uma nevasca, só  para não ter de aturar os domingos de pelada.
Correm boatos de que nem sempre seu Agenor foi essa criatura amarga e temida. Houve época em que até cedia seu terreiro para as partidas. Mas depois que seu único filho saiu de casa para brincar  com a molecada e nunca mais voltou, ele se tornara o que então conhecemos. A notícia de que o menino havia sido atropelado por um bêbado quando atravessava a rua para apanhar a bola o deixara em estado de choque. Seu menino tinha apenas nove anos, um anjo! Como Deus permitia que aquele tipo de desgraça acontecesse aos inocentes?
A partir de então seu Agenor tornou-se inimigo declarado do futebol e passou a detestar os domingos de pelada, mas não porque era uma pessoa má. Ouvir o som dos risos da molecada se divertindo fazia com que irremediavelmente se lembrasse do filho, e o que havia acontecido era o que mais tentava esquecer.   

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