sábado, 12 de fevereiro de 2011

Museus e fantasmas

Toda vez  que penso no assunto, não há como escapar a essa relação que os museus têm com os fantasmas, talvez porque todos os museus do mundo sejam poeirentos e cheios de coisas velhas , atrativo irresistível para todos os tipos de fantasmas.
Quando eu era criança, poucas vezes fui a um museu. Meus pais não tinham dinheiro para ficar gastando com essas coisas, e os parcos recursos que angariavam por meio de árduo trabalho mal bastavam para o arroz e o feijão. Mas eu sabia como eram os museus pelo o que via na tv; filmes que tratavam do assunto era o que não faltavam.
De uma coisa eu tinha certeza: museus nunca ficavam abertos até tarde da noite, justamente por causa dos fantasmas. Para não assombrar os visitantes, as portas são fechadas antes mesmo que dê meia-niote. De meia-noite em diante, o museu é dos fantasmas.
Eles ficam zanzando a noite toda, entre estátuas e vasos antigos. As múmias egípcias saem de seus sarcófagos e passeiam como gente viva; algumas ainda conversam umas com as outras, talvez contando a fofoca do dia. O esqueleto de um tiranossauro rex corre atrás de uma pequena galinha pré-histórica, provocando grande espalhafato.
Horas depois ouve-se um apito de navio, e o velho Titanic surge no meio do museu. Jack e Rose estão na proa, abraçados, como no filme; não imaginam que seu barquinho pode afundar como se fosse feito de papel. O mesmo não se daria com o Holandês Voador, pois, como o próprio nome diz, um barco voador não afunda.
Ali está Dom Pedro, proclamando a Independência, enquanto naquele outro canto uma multidão de judeus carecas caminham melancólicamente para o holocausto. Eles sabem que vão morrer? Já estão mortos!
Antes que o dia amanheça, todo esse mundo fantasmagórico aos poucos vai-se apagando, como a neblina é espantada pelos raios de sol. O grande museu vai ficando novamente vazio e tudo volta a fazer sentido.

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