São 15h e 35min de uma tarde calourenta de quarta-feira. Em Fortaleza é sempre assim. Se o Sol não está fritando o asfalto, as chuvas estão alagando tudo, arrastando casas, detritos e gente. Hoje faz calor, diria que por volta de uns 30°C, com umidade relativa do ar quase nula. Da janela do me quarto posso ver a favela expondo seus barracões ao Sol. Nos terreiros, uma confusão de varais com roupas para secar. Crianças banham-se com mangueiras d'água. Alguém distante reclama: a água não está de graça. E não está mesmo! Ainda ontem quase tive um ataque cardíaco ao reber minha conta mensal, se não fosse demasiado jovem para esses tipos de ataques. Já procurei saber o motivo desse aumento repentino. Dizem que é para fazer melhorias no sistema de distribuição. Só esqueceram de me dizer onde estão acontecendo essas melhorias, porque inúmeras vezes meu chuveiro me deixou na mão no meio de um banho.
Em Fortaleza é sempre assim. As coisas nunca estão acontecendo de fato. Você sabe que uma estrada está sendo pavimentada ou que um hospital está sendo reformado quando alguém lhe conta, mas a verdade é que tudo não passa de boatos. O que vemos de fato são os escombros de um hospital caindo aos pedaços e buracos misteriosos que vão surgindo pelas estradas. Já me perguntei se esses buracos levam a algum outro mundo - algum Reino Encantado, talvez, onde nada disso exista. Mas não. Esses buracos são daqui mesmo.
Esta é uma cidade de aparências. Não importa se nesse exato momento famílias estejam desabrigadas, torrando ao Sol como o churrasco da miséria, ou se as chuvas do mês anterior levaram abaixo centenas de outros casebres humildes como os que vejo da minha janela. O que importa mesmo é que a TV, os cartazes e os outdoors estejam sempre anunciando uma "Fortaleza bela", uma Fortaleza quimérica onde nunca viveremos.
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